terça-feira, 27 de setembro de 2016

PRIMAVERA


A esperança tem muitos nomes, no final da seca atende por chuva. Os primeiros sinais de aproximação da água parecem fazer a terra seca e vermelha soltar um cheiro forte de poeira, no contato com os pingos microscópicos que caem, esparsos. Resultado de um desejo profundo por alívio do calor e da intensidade da falta de água características do Cerrado. Depois, vem aquele aroma de chão gradualmente molhado, que é a cara do início da primavera. Os passarinhos ficam enlouquecidos, cantando alto e visivelmente assanhados, sem parar, o dia inteiro, chamando pela estação do renascimento, depois da espera do inverno, seja ele frio ou muito quente, no final, como acontece no planalto central...

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sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Pai e Filho


Foto: Maria Helena Oliveira (2008).

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Lado a Lado


Foto: Mila Oliveira.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

JK


Foto: Oswaldo Buarim Jr.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Florada


Foto: Oswaldo Buarim Jr.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Liberdade


Foto e montagem: Oswaldo Buarim Jr. (2007)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

RITMO


Comecei minha relação com o pandeiro há mais de quatro anos. Queria uma atividade lúdica, de descompressão do dia de trabalho e um pouco de diversão junto com outras amigas que também tinham vontade de se aventurar pelos caminhos da percussão. O primeiro contato com o instrumento foi desastroso. Achei pesado, doeu meu pulso esquerdo, não tinha a menor condição de sustentar o pandeiro numa mão e ainda tocar com a outra.  Resolvi começar pelo tantan, que apesar de maior, parecia mais fácil, repousava sobre a perna, facilitando as coisas para mim. Mas acabei encomendando um pandeiro pelo correio de um artesão do Rio, o Zezinho.
Quando chegou o bendito e o peguei nas mãos, me surpreendi com a sua leveza, em comparação ao que eu havia experimentado antes, e pensei: “acho que dá para tentar!”. Mas não pensem que foi fácil como eu imaginei brincar de batucada no meu telhado de grama. Tinha, primeiro, um conflito de estar tirando o tempo livre com a minha família, que sempre é escasso para quem cumpre jornada de 40 horas semanais de trabalho. Apesar de sempre dar jantar aos meninos e fazer o dever de casa antes de começar, numa correria alucinada geralmente, vez por outra batia aquela culpa famigerada que persegue as mulheres nesse mundo. Depois, vinha o medo de não conseguir aprender, acompanhado da constatação de que não sou um talento nato e nem tenho um ouvido especialmente bom.
Tive a sorte de começar com o professor perfeito. Simples, descontraído, desencanado, tranquilo ao ponto de às vezes parecer estar em outro mundo, que sempre lembrava a frase de um peruano com quem teve aula, que virou o bordão dos nossos anos de samba no telhado de grama: “A música brôta (assim mesmo para imitar o sotaque original)!”. E não é que é verdade?!
Quando a gente perde o medo de errar e, principalmente, reduz o esforço para acertar, as coisas parecem aflorar e a hora de entrar fica clara, assim como a de brecar. Talvez tenha sido  isso o que me atraiu para a percussão, logo nos primeiros anos dessa jornada recente de autoconhecimento, ouvindo o Marcos Suzano tocar com o Vitor Ramil, no SESC, em São Paulo. Um momento de absoluto êxtase por ouvir a milonga de “Estrela, Estrela”, que conhecia desde adolescente na voz da Gal Costa, dançar com um ritmo que  eu nunca havia imaginado que poderia ter, sem perder a sua força e melancolia originais.
A percussão tem uma sutileza e uma complexidade enormes, disfarçadas ou até quem sabe escondidas, em instrumentos simples, quase rudimentares na sua aparência, quando comparados aos de corda e de sopro, por exemplo, ou a um piano. Mas é o ritmo que vem dela que dá vida e sustenta a música, e quando a gente pára para escutar só as suas batidas, e mais nada, nasce o famoso suingue que faz eco com a pulsação do nosso próprio coração. Esse gingado que faz a vida ter graça nas suas pequenas coisas e que nos ajuda a lidar com os sentimentos mais diversos e que incluem tristeza, dor, impotência, solidão, todos juntos e misturados, dançando continuamente ritmados.
Entre tantas coisas que descobri e aprendi com a música e, em especial, com a percussão, a mais importante delas talvez seja perceber que o menor esforço produz o melhor som. Assim é também com a nossa voz, quando projetada no canto ou num mantra. Quanto menos força colocamos para puxar o ar ou tocar o pandeiro, quanto mais minimalista o movimento e a respiração, maior o volume, o alcance e a clareza do  som produzido.
Hoje, ao final da aula de yoga, ouvi uma definição belíssima dessa prática milenar. Diz que é um caminho para atingir o inatingível e para colocar atenção TOTAL no presente. Nesses dias, em que meu coração tem apertado com uma saudade funda, que faz parte do cotidiano do meu luto, tão cheio de serenidade e de dor,  isso faz um sentido inacreditável.
É como no choro, a saudade e a dor fluem e se esparramam pelas cordas e sopros do conjunto, mas o ritmo da percussão garante que a música vai chegar ao final. Aquela batida constante leva todos os instrumentos juntos, mesmo no silêncio do breque, que realça o solo do violão, e os une para transformar aquele conjunto de notas em música.
E quando se está presente o suficiente, numa roda de choro ou em qualquer outro lugar, para escutar somente, e se esforçar o mínimo para participar, o inatingível desaparece  porque vira AGORA,  e podemos simplesmente ser parte dele e mais NADA. E nisso, é possível repousar e se libertar dos fantasmas do medo, da solidão e da angústia, e compreender com o coração que nenhuma dor pode parar a música ou a vida, porque ela tem um ritmo próprio, que segue e brota, das formas mais inesperadas possíveis. E continua a batucada....

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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Ceará


Foto e montagem: Oswaldo Buarim Jr. (2007)

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Poesia no Eixo - 2


Foto: Marina Oliveira. Agosto de 2016.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Caçando Pokemón


Foto: Marina Oliveira. Agosto de 2016.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

MUNDO NOVO



Há anos que parecem milênios. Desde a morte do meu marido, tenho uma sensação recorrente de estar num filme de ficção científica, um gênero o qual, aliás, sempre detestei.  Mas um grande amigo me fez repensar a questão, recentemente. Disse a ele que o meu maior objeto de desejo na atualidade seria aquele espelho do Harry Potter, diante do qual ele se vê junto dos pais falecidos, como se estivessem todos vivos. Mas ficava me lembrado do mestre Dumbledore dizendo ao jovem mago que não havia nada mais perigoso no mundo do que aquele espelho. Pessoas haviam enlouquecido e definhado, sem querer sair da frente dele, por não conseguirem abrir mão da ilusão produzida por aquele objeto. “Credo, parece ficção científica!”, concluí. E ele: “mas a ficção científica é só um jeito de tentar lidar com as questões definitivas da vida – morte, envelhecimento, doença... E por aí vai”. Taí, bom argumento!
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quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Poesia no Eixo - 1


Foto: Marina Oliveira. Agosto de 2016.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Carinhas


Fotos: Maria Helena Oliveira. Montagem: Davi Buarim. Setembro de 2016.

domingo, 4 de setembro de 2016

Chico para você, meu amor!


Foto: Marina Oliveira. Agosto de 2016.

sábado, 3 de setembro de 2016

Beijo


Foto: autor desconhecido.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Cena carioca 10 - Calçadão


Foto: Marina Oliveira. Agosto de 2016.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

CRÔNICA



Maracanã lotado em dia de jogo do Brasil! Sombras das chuteiras imortais... Nelson Rodrigues, penso, olhando em volta. Estou na fila para comprar água, no nível 1 do Maracanã, dia 17 de agosto, semifinal olímpica, Brasil e Honduras. Começa a confusão. Uma mulher, aos berros, manda um homem sair, ele carrega um bebê de colo no sling e, nervoso, parte para cima de outra mulher, na fila, todos vaiam forte o covarde, que se afasta. Segue uma discussão que toma conta de todos os que esperam, pelo menos há trinta minutos, para comprar ficha para as bebidas.

O episódio que originou tudo foi simples e clássico. A mulher estava cansada e estressada, depois do metrô lotado feito sardinha para chegar ao estádio, por onde aliás todos os que estavam na mesma fila vieram, e não queria ficar em pé como os demais. Sentiu que tinha direito a um atendimento preferencial e chamou o marido com a criança no colo para justificar a preferência. Mas não colou e quem estava prestes a chegar ao caixa reagiu. Ela se descontrolou, gritou com o marido para tirar a criança do local. Ele, por sua vez, ficou nervoso e partiu covardemente para cima da mulher que não reconheceu a preferência do casal. Chamaram a polícia, a mãe do bebê chorou e fez um longo discurso... Os policiais botaram pano quente.

Logo, outro sujeito que estava ali com um “filho especial” desabafou: “Eu tenho um filho assim e nunca entro em fila preferencial! Tem gente que é demais! Quer privilégio para tudo!” Outra pessoa atrás de mim arriscou: “Esse homem aí tá acostumado com barraco. Por isso partiu para cima da outra, na fila. Tá na cara que a mulher é uma descontrolada e a confusão rola solta em casa. Coitada da criança!”....GOOOOOOOOL, do Brasil! Correria nos corredores, as caixas gritam e esquecem da fila, ninguém se lembra mais da confusão.

Uma senhora chega para reclamar, um homem alto com a camisa do Brasil que está em último na fila põe a mão no ombro dela, olha em seus olhos. “O que a senhora quer?”, pergunta.  “Ser atendida!”, responde, impaciente, porque parece óbvio. Ele sorri de lado e continua: “Não, minha senhora! Eu perguntei o que a senhora REALMENTE quer!”, numa voz de pastor. Em pleno Maracanã lotado, uma questão existencial profunda parece estar colocada. Ela fica muda, se acalma, desiste do que veio procurar, seja lá o que for certamente não vai conseguir naquela fila.

Filmo e gravo os personagens, o lugar. Só consigo pensar no texto que vou escrever sobre esse momento. Por que será que vejo o mundo assim, como uma crônica de Nelson Rodrigues? As Olimpíadas do Rio me pegaram num momento muito particular. Navegando no luto do meu amor, desempregada, quarentona, minha filha mais velha começando a faculdade e eu no meio daquela multidão, querendo achar o que realmente quero fazer da vida daqui para frente. E, a todo momento, percebo que é escrever, fotografar, nem que seja só com o olhar, e pensar no sentido do que me cerca, dos fatos, das pessoas que passam fora e dos sentimentos que provocam dentro. Uma cronista da vida. Sempre fui assim... Mas ainda não consigo saber exatamente o que fazer com isso. E a disponibilidade dos últimos tempos, provocada por uma necessidade imperiosa de me reinventar completamente, só aguçou essa percepção.

Será que toda vocação tem que virar profissão? A gente bem que tenta fazer as duas coisas caminharem juntas ou pelo menos próximas. Mas há talentos que não se prestam a virar meio de vida, afinal o famigerado mercado escolhe as vocações que serão recompensadas financeiramente. Muitas vezes opera destruindo as palavras e sentidos que não servem para vender nada e podem até levar à redução do consumo...Imagina?!

Quando escolhi minha profissão, pensava que o jornalismo me permitiria viver de escrever, como confessei no primeiro texto deste blog. Mas o mercado de trabalho tão bruto e a rotina de produção pesada me mostraram que seria bem mais complexo equacionar essa dança entre vocação e profissão na minha vida. Faz dezenove anos que me formei – e quase dois meses que não tenho emprego fixo, pela primeira vez em todo esse tempo. E colocar isso no “papel” me dá uma sensação de prazer indescritível de LIBERDADE e, ao mesmo tempo, uma angústia absurda de não ter resposta!! Só milhares de perguntas...Minha filha mais velha me surpreende. Assim são os filhos, sempre! Abriu mão da vaga conquistada com muito esforço em uma universidade pública porque descobriu, trabalhando como voluntária nos Jogos Olímpicos do Rio, o que quer de verdade. Admiro sua coragem e determinação. Vai voltar para o cursinho e fazer o ENEM, no final do ano. “Segue o seu coração!”, é tudo o que eu posso dizer para ela, e talvez muito mais para mim, porque além disso, realmente não há mais.

Houve um tempo em que acreditava que havia caminhos mais amenos e retos do que outros e muitas vezes me torturei por nunca ter escolhido essas “vias expressas”, idealizadas pela ilusão de que há existência sem dúvidas. Hoje, mais madura e consciente de mim mesma e dos significados mais profundos da minha trajetória, só posso repetir as palavras de Antonio Machado, na belíssima poesia Cantares: “Caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar”.  

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