Desde
pequena adoro cortar os cabelos. Mamãe
contava que, quando tinha três, quatro anos, não podia passar na porta de um
salão que pedia para entrar. Talvez por isso tenha tido sempre os cabelos bem
curtos até completar uns nove anos, mais ou menos, quando comecei a espaçar um
pouco as visitas ao cabeleireiro e aderir à moda do cabelo comprido. Quando
sento em frente a todos aqueles espelhos no salão, gosto de me olhar nos olhos,
observar os detalhes do rosto e do corpo que saltam à vista nessa hora e,
principalmente, acompanhar a transformação que acontece entre a primeira e a
última tesourada. Esse ritual sempre me renovou e, de alguma maneira, refletiu
um processo interno constante de elaboração de diferentes acontecimentos da
vida.
Mas,
sábado passado, quando cortava meu cabelo pela terceira vez desde a morte do
meu marido, me bateu uma sensação esquisita. Olhava meus cachos caindo no chão
e parecia desconhecer a pessoa refletida no espelho, o coração apertado. Ao
sair, passando em frente a uma vitrine com vestidos de noiva, da mesma loja
onde comprei o meu, deixei as lágrimas caírem. “Ele não vai me ver com meu
cabelo novo!!”, gritava uma voz lá dentro, completamente revoltada, como uma
parte de mim tem estado permanentemente desde o início de 2016. Não tenho mais
o espelho daqueles olhos amorosos para me ver...
GOSTOU?! #debaixodosipes
GOSTOU?! #debaixodosipes
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Mais uma vez, achei lindo. Somos, em parte, o conjunto de lembranças que os outros têm de nós. Entretanto, somos certamente mais do que isso. E perdemos a nós mesmos o tempo todo, com os que se vão e com o que se vai de nós. O desfio é perceber o que ganhamos.
ResponderExcluirObrigada por compartilhar textos tão especiais.
beijos
Verdade, querida. E quando paramos de nos concentrar tanto no vazio, conseguimos encontrar muitos ganhos, sempre, mesmo em meio a grandes perdas. Obrigada pelo carinho e pelos comentários!
ResponderExcluirBeijos
Marina...
ResponderExcluirBeijo muito carinhoso.
Hustana
Oi, Hustana!
ResponderExcluirSaudades! Bom saber que você tem lido!
Beijos
Marina
Linda música, lindo texto é mais linda ficou você de cabelo curto. É o meu testemunho, de hoje, de vida.
ResponderExcluirObrigada pelo testemunho! É muito bom ouvir. Essa música do Vitor Ramil tem história. Eu escutava com a Gal Costa quando pequena e depois que perdi minha mãe, nas noites de insônia ia ver a lua, da porta envidraçada da sala de jantar e cantava, sem saber quem era o autor. Muitos anos depois, com o meu amor, fui a um show do Sesc Pompéia do Ramil com o Marcos Suzano (baita percussionista) e no final ele disse: agora vou cantar a primeira música que compus aos 18 anos, lá na fronteira onde cresci...chorei muito!
ResponderExcluirBeijos
Mais um lindo texto, mais uma emoção. De cabelos curtos ou curtíssimos, vc continua linda.
ResponderExcluirBelo texto Marina! Abraços.
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