Foto: Marina Oliveira.
Há quase quinze anos atrás,
quando conheci meu amor, tínhamos mania de brincar de discutir sobre religião.
Ele se fazia de agnóstico convicto e, embora filho de uma família profundamente
católica, gostava de falar mal dos padres e da igreja. Eu, católica praticante
ao cubo, criada dentro da igreja desde os nove anos de idade e
ultraparticipativa nos movimentos jovens. Digo “brincar de discutir” porque, no
fundo, eu duvidada do radicalismo dele com relação a esse assunto e ele do meu.
O tempo mostrou que tínhamos ambos razão, como em quase toda discussão onde o
calor do momento e o fundamentalismo das missões não fazem a gente errar a mão
nem no tom e nem nos argumentos.
No meu primeiro encontro com a
morte, aos 17 anos, quando perdi minha mãe, quase nove anos antes de conhecer
meu marido, gostava de ir ao cemitério, sozinha, e ficar na beira do túmulo
dela desabafando todo choro e as dúvidas que não tinha coragem de mostrar em
casa ou aos amigos. Só nas missas de domingo, ajoelhada depois da comunhão, me
permitia desabar como ali. No fundo, pedia perdão, sem saber exatamente por que,
a um deus que decidiu assim, certamente por razões perfeitas, me tirar tão cedo
a mãe que, afinal, ele mesmo tinha me dado. Permitia-me, apenas, a alegria
eufórica da Páscoa em que a promessa da ressurreição – voltar a encontrar em
corpo e alma a minha mãezinha – me preenchia da esperança de um dia merecer
essa recompensa, obviamente depois do fim do mundo e do juízo final...
GOSTOU?! #debaixodosipes
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