Foto: Florianópolis, por Fabiany Made.
Há vozes tão profundas dentro de
nós que, muitas vezes, se confundem com a nossa própria. Elas carregam um
conjunto de valores, maneiras de enxergar a vida, a morte, o masculino e o feminino,
o divino, a maternidade, os relacionamentos afetivos em geral, e por aí vai.
Mais do que isso elas se confundem com a verdade ABSOLUTA do universo. São
produto das nossas experiências mais antigas de infância e adolescência sobre o
nosso valor no mundo, mas principalmente para as pessoas que amamos. Criada numa
família de polaridades, um lado porra louca e cheio de tragédias e outro
absolutamente rígido e com muitas dores guardadas a sete chaves, principalmente
dos seus sujeitos, e tendo nascido uma pessoa altamente sensível, acabei
hipertrofiando um lado, talvez por medo de acabar repetindo a história do
outro, visivelmente mais sofrido. Ou, por simples questão de sobrevivência,
escolhi o lado aparentemente mais poderoso. Por fim, criei um monstro – uma
polaridade opressora e dominadora cuja força venho tentando reduzir e quem sabe
um dia silenciar.
Essa polaridade OPRESSORA não
admite os meus sentimentos, nenhum deles, na intensidade que têm dentro de mim
desde sempre. Ela decreta que não cabe a tristeza, o medo, a incerteza, a
dúvida, a preguiça, nem tampouco o otimismo, o desejo, a alegria, o prazer, a
esperança, a leveza, a conexão com a terra e a natureza que me cerca. Enfim, não cabe nada do que sempre houve em
abundância no meu coração. Para o mundo exterior, nunca houve prejuízos. Sempre
fui uma pessoa funcional, especialmente nos momentos de maior sofrimento da
minha história, de desempenho reconhecido e comprovado. Desde os nove anos
mergulhei de cabeça no Catolicismo, uma religião que casava perfeitamente com
todo esse arcabouço descrito. E, embora em muitos momentos a minha religião
tenha sido a única companheira no sofrimento, ela reforçou em mim alguns dos
princípios mais cruéis dessa polaridade – culpa, vigilância permanente,
controle e desprezo pelo momento presente, já que esse mundo serve apenas para
expiação, além do eterno castigo iminente.
Foi por não suportar mais viver
sob o jugo dessa polaridade que, em 2009, sem ter mais qualquer condição de
aguentar o espinho no peito acumulado por anos dessa ditadura, que iniciei essa
jornada descrita neste espaço virtual. Foram muitas as vitórias e descobertas
desse caminho, as mais marcantes delas também registradas. E, em todas elas,
havia um contraponto forte, concreto e próximo que me impulsionava adiante –
meu marido. Muito antes de eu saber, ele reconheceu a minha essência e me amou
por ela e pelo potencial que enxergou. Homem maduro e experiente quando nos
conhecemos, escolheu ficar comigo sabendo exatamente o que fazia....
GOSTOU?! #debaixodosipes
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Lindo! Adelante, amiga!
ResponderExcluirVocê sempre tão generosa comigo e com os meus textos! Beijos, querida!
ResponderExcluirMarina, sua sensibilidade, sua percepção e sua coragem impressionam.
ResponderExcluirMais uma vez, um texto carregado de sinceridade e sentimento.
beijos
Marina, não tem como não se emocionar com teu texto. Que lindo esse processo de autoconhecimento por meio do amor... Um abraço!!
ResponderExcluirNesse momento de ondas tão turbulentas de sentimentos na minha vida é uma alegria receber manifestações desse tipo! Tem sido muito rico para mim poder compartilhar esse processo e ver os ecos que retornam "no vento" nesses comentários públicos e em muitos outros privados, que tem chegado.
ResponderExcluirBeijos
Marina
Muito lindo Marina! É uma reflexão para todas nós. Bjs
ResponderExcluirIdentificação total, Marina. Como viver pode ser tão sofrido?! Beijo grande!
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