Foto: Lago Paranoá, por Marina Oliveira.
Adoro olhar as águas do Lago
Paranoá em dias ensolarados. A luz refletida pelas ondas e o vento que vai
soprando e mudando a maneira como os raios solares são quebrados e devolvidos
para o céu me trazem uma sensação de conexão com a essência da vida. Em noites de lua cheia, amarelada pelo
céu seco do cerrado, tenho um sentimento parecido. Poder perceber isso numa
manhã de sábado, no meio de um período especialmente turbulento no meu coração,
renova em mim a certeza de seguir tendo as raízes profundamente agarradas nesta
existência terrena. Ufa! Algo que, em certos momentos, tem parecido um absurdo
e, ao mesmo tempo, uma impossibilidade em meio a ondas bravias que têm me
balançado junto com meu barco de papel desde a morte do meu marido.
Este ano de 2016, especialmente,
destruiu algumas fantasias que eu ainda alimentava na fase anterior desse luto.
A mais traiçoeira delas foi acreditar, mesmo que de forma inconsciente, que
haveria um corte no tempo, um divisor de águas claro entre este tempo de dor,
instabilidade e elaboração e uma nova etapa, sem tempestade, em águas novamente
tranquilas. Na verdade, estive o ano passado inteiro como um paciente na UTI,
totalmente focada em voltar para o quarto e sair daquele lugar miserável. Mas,
quando atingi minha meta e olhei em volta, me dei conta de que o mundo jamais
seria o que foi antes. Ele não volta mais e não há como retornar para onde eu REALMENTE
queria ir. E o que faço de mim e do tempo longo que ainda tenho para caminhar
neste mundo, sem ele?
GOSTOU?! #debaixodosipes
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