Registro histórico, encontro de amigas.
Por onde começar quando algo parece interminável? É a reflexão do dia. Hoje acertei a mão no almoço, graças à Rita Lobo, minha guia, minha luz para pilotar as panelas de agora em diante. Apesar disso, não consegui tirar a minha filha mais velha de uma tristeza profunda (a maior registrada até aqui) e nem o mais novo da sua irritação com estudos a distância. "Se é para ficar fazendo dever em casa, preferia ir pra escola", declarou. Mas minha parte com relação à alimentação dos filhotes foi realizada, botei comida descente na mesa, em horário compatível com uma refeição chamada almoço! E nada no mundo mundo me alivia mais do que ter certeza de que NÃO HÁ NADA MAIS QUE EU POSSA FAZER a respeito. Agora pertence a cada um lidar com o turbilhão dentro, causado pela insegurança fora, e a falta de previsibilidade sobre quando termina a emergência.
A angústia do "até quando?" talvez seja o que tenha nos igualado e, por isso mesmo, nos tornado mais humanos nesse tempo de exceção. Guardadas as devidas proporções entre o tamanho do impacto no bolso e no planejamento de cada um, e na rede de proteção disponível para enfrentar a calamidade, ficamos no mesmo barco ou nos sentimos assim, enfim. De repente, vem uma clareza sobre a falsidade da ideia de uma pessoa pode estar bem pra valer, enquanto outras morrem de fome, violência, negligência, omissão, ataques de ódio e... coronavírus!
Precisou esse bichinho microscópico saído da China para dissipar essa névoa maluca que nos hipnotizou, turvando nosso entendimento sobre a importância da verdadeira política para a coletividade, aquela com P maiúsculo cujo significado é serviço e pactuação para o bem de todos, sobre o valor capital do diálogo sem desqualificação do outro, sobre a escuta generosa do "outro lado", e o que se passa com quem está num sapato aparentemente diferente do nosso - só que não -, como nos esfrega na cara o corona.
Quanto mais iguais, mais humanos, em todos os matizes dessa palavra que vai dos mais nobres aos mais mesquinhos comportamentos e TODOS, sem exceção, fazem parte de cada um de nós, assim como da coletividade. Os preconceitos caem por terra e algumas verdades negadas começam a gritar e fica mais difícil fechá-las de novo em algum porão....Embora haja os que preferem a morte agarrados à mentira do que admitir erros e fracassos.
Um exemplo: a tecnologia. As pessoas mais velhas a temem e muitas vezes a desprezam, culpando-a pela "degeneração da sociedade", os mais jovens a amam e constroem todos os seus relacionamentos, de diversão ao ganha-pão, em torno dela. E, quando a emergência nos iguala, enxergamos claramente que a tecnologia não pode ter culpa, ela não tem intenção, está aí para nosso uso. E somos nós, humanos, mais uma vez, nas nossas ambiguidade e negação, que a utilizamos para disseminar o ódio, a desinformação, a superficialidade e o consumismo, de pessoas e relacionamentos, inclusive. Mas, em meio ao vírus-ducha, percebemos todo o seu potencial como instrumento de manutenção de vínculos e aproximação de pessoas, como possibilidade de trazer alento, soluções concretas e fundamentais para o avanço da humanidade. Como é da minha natureza, escolho olhar o lado feio disso tudo bem no olho e, sustentando a mirada, observar o que dele vive em mim, escolhendo, cada dia, o outro lado nesse começo interminável, no qual o mundo está mergulhado.
PS - Não pude resistir a postar o registro histórico de quatro das minhas amigas-irmãs em reunião por vídeo no celular ontem à noite. Pela ordem, uma delas fazendo o caçula ninar, outra (sem óculos, né?) espremendo a vista para ver mais pertinho o pessoal do outro lado (imagino), a terceira com esse sorriso meio de lado tão dela, quando algo que vê toca seu coração, e a quarta, guerreira danada com uma baixinha em casa que é um furacão, deixando a faxina quase eterna nessa situação de lado, para encontrar as amigas. O próximo encontro eu não perco, visse?
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