sexta-feira, 27 de março de 2020
DIÁRIO DE QUARENTENA - DIA 8
Visitante do dia, comendo banana.
No mar de dias indistintos, navegamos ondas radicais dentro de nós. Acordei cedo, seguindo a lição da última segunda-feira, na qual fui atropelada por levantar tarde demais, tomei café e a neblina nas árvores do vale tornou mais aguda essa melancolia no ar. Fui para a varanda praticar uma ioga leve, pois estava ainda dolorida do exercício de cardio, enviado por uma amiga num dos grupos, e que resolvi fazer há dois dias e ainda não me recuperei. Tem uma tensão acumulada na região dos ombros e pescoço, quase permanente. Mas a gente maneja com algum alongamento e muita respiração. Medito e logo ouço um roçar de folhas particular. Sinal de visita. O quati da foto deste post e sua família numerosa - presente, mas não clicada - fazem a festa com o cacho de bananeira ainda em broto no quintal, bem perto do parapeito da minha varanda. Tanta paz na natureza e tão pouca em mim.
Talvez hoje seja o dia mais difícil de escrever, pela sua característica cinza, a cor sem lado definido e, apesar disso, desbotada e fria, ao menos para mim. Fiz um almoço bastante gostoso, pronto no horário, mas de pouco ibope. Algo muito decepcionante, confesso, que me fez perceber que melhorar o humor da turma, nesses dias, está muito além de uma questão de talento culinário. Trata-se de mais uma impotência a lidar, entre tantas. A navegação é individual, e os meninos precisam encarar dentro deles, como eu em mim, as muitas adaptações necessárias (quase todas indesejadas) e frustrações pequenas e grandes, em tempos de vida do avesso, sem data para voltar ao normal. Então, recolho a vela porque não tem vento mesmo, como e sigo o dia, tentando apenas chegar ao final dele. Por hoje, só por hoje, tem que bastar.
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