Foto: Mila Oliveira. Fevereiro de 2016. Por do sol no Arpoador.
Fim de ano tem sempre aquele
momento de balanço e eleição dos melhores disso e daquilo. Tem horas em que
cansa, mas parece que a gente sente falta de não participar dessa febre de
avaliações sobre os últimos 11 ou 12 meses, como se eles não fizessem parte do
conjunto dos últimos 10 mil meses, mas estivessem separados deles, no tempo,
como uma fatia de pizza. Então, não resisti a fazer minha própria versão dos
melhores de 2016, escolhendo uma virtude que, dentre todas, se destacou para
mim este ano...
GOSTOU?! #debaixodosipes
Em Brasília: à venda na Banca da Conceição, na superquadra 308 sul.
Você sai de casa para abastecer o
carro com gasolina mais barata e acaba enguiçada, com a bateria arriada, antes
de chegar à bomba. Planeja uma festinha na sexta-feira à noite e a greve de
ônibus joga sua vida de pernas para o ar logo cedo. Constrói um puxadinho para
proteger da chuva a parede lateral da casa, e acaba acordada na madrugada por
uma goteira dentro do seu quarto, no pé da sua cama. Dorme tranquila, abraçada
com seu marido, depois de dias maravilhosos na praia, achando que vai amanhecer
ao lado dele e, no meio da madrugada, acorda para testemunhar sua morte de
infarto fulminante. Dá para pensar que a vida é, na verdade, uma série de
imprevistos, alguns deles bem mais sérios do que outros, mas todos imprevistos.
A questão é como lidar com isso,
sem ficar completamente insegura e apavorada só pelo fato de estar viva? Afinal,
para ser elegível a um imprevisto, basta respirar. No jardim perfumado descrito
no último texto, formou-se uma chuva inesperada em cima da minha cabeça. E não
adianta brigar com a água, isso eu aprendi em doze anos de convivência com um
telhado de grama caprichoso, que eu amo de paixão, mas que a cada estação traz
uma novidade, dependendo do ciclo da chuva, da sua intensidade e de variáveis
que eu nem imagino. Já foi a goteira no pé da escada, entre os quartos dos
meninos, no corredor, no banheiro do meu quarto, em cima do meu armário, na
cabeceira da minha cama e, agora, no pé dela. E, na maior parte das vezes, o
jeito foi esperar, observar bastante, e só então agir para tentar amenizar a
situação. E lá vou eu de novo retomar a observação, graças a outro movimento
misterioso no meu bendito telhado verde.
Mas tem uma parte de mim que quer
sempre resolver tudo. É de uma impaciência e de um imediatismo absurdos diante
do luto, da dor, do desemprego, da escolha profissional da filha, do que vou
fazer de mim pelo resto da minha vida, de como se recomeça a ter interesse em
alguém, de como se sabe se alguém tem interesse em mim ou não, de como um
interesse vira algo concreto... Enfim, todas elas questões prementes,
inescapáveis mesmo, mas não passíveis de serem resolvidas com a objetividade e
a rapidez que esse lado de mim EXIGE. Estão mais para a chuva no meu telhado de
grama do que para um problema matemático com uma resposta certa e todas as
outras absolutamente erradas. Pior. São respostas que se revelam no tempo e
podem mudar a qualquer momento, sem que a gente tenha qualquer controle sobre
elas!!
Observar sem se desesperar, nem
se paralisar, eis a outra parte da questão. Será que cada um de nós tem uma
cota de imprevistos na vida? Adoraria pensar que sim, mas aí ficaria louca para
descobrir qual é, e se já estou perto de ter concluído a minha (o que seria
perfeito)!! Mas se eu não pudesse saber o tamanho dessa cota, daria exatamente
no mesmo, então deixa para lá.
No tarô, que sempre gostei de
jogar, apesar de morrer de medo dele, tem a carta do eremita – em alguns
baralhos mitológicos, como o meu favorito, também atende por Cronos, senhor do
tempo. É uma carta que fala de velhice, de solidão, de espera, de limitações,
de compreensões que só vêm no silêncio. O eremita anda sozinho, maltrapilho,
carregando um lampião numa das mãos, único ponto iluminado na carta, mas tem um
rosto sereno, misteriosamente iluminado, quase como o sorriso do Buda.
Desde que me entendo por gente,
essa carta me persegue, aparece para mim quase toda vez que jogo um tarô. E
hoje talvez comece a atinar a razão desse encosto no meu caminho. Eu PRECISO
aceitar os limites, o tempo da espera até saber como agir para corrigir a goteira,
até conhecer a diferença entre o movimento que vale a pena e aquele que só
desperdiça energia. E, principalmente, a sabedoria de não me deixar impressionar
tão profundamente nem pela impotência trazida pelos imprevistos, nem com a
potência que nos vem quando temos a sensação de estarmos conseguindo contorná-los.
As duas coisas fazem parte da mesma moeda, a do amadurecimento sereno, aquele
que traz a compreensão de que estamos sempre em trânsito até o dia em que acabe
o nosso tempo e que não há absolutamente nenhum mal ou ameaça nisso.
GOSTOU?! #debaixodosipes
Em Brasília: à venda na Banca da Conceição, na superquadra 308 sul.
Uma frase de Carlos Drummond de
Andrade anda passeando pelo ar, nos últimos dias: “A vida necessita de pausas”.
E, numa dessas, me encontro a quatro meses completos. Uma espécie de licença
sabática, bem merecida, diria sem falsa modéstia. Como uma andarilha vinda de
uma longa caminhada em terras estrangeiras e nada luminosas, me sinto assim,
repentinamente, morando num jardim perfumado, para pegar emprestada a expressão
recebida por e-mail de um grande amigo português, há alguns dias. Esse leitor
atento e perspicaz deste blog, um fato que muito me honra, aliás, sempre manda
seus comentários periódicos e é uma alegria quando chegam à minha caixa de
entrada...
Sálvia misturada com manjericão e
orégano lembram a cozinha da minha avó materna. Uma mulher tortinha, desde que
me entendo por gente, devido a um reumatismo fortíssimo que começou quando
completou 40 anos, mas dona de uma vitalidade impressionante. Grávida da minha
filha mais velha, ia almoçar na sua casa quase todos os dias para economizar
gasolina e restaurante. Chegava pela porta da garagem, entrava na cozinha e lá
estava ela, com mais de 80 anos, tendo enterrado três de seus quatro filhos,
sempre mexendo as panelas cujo conteúdo real jamais revelava. Era para evitar
frescura de alguém dizer que não come isso ou aquilo e arrumar uma desculpa
para não provar o que ela tinha preparado. Além do mais, sempre teve que viver
com pouco devido aos altos e baixos financeiros do meu avô, então fazia
banquete de ferrugem de prego, mas alguns dos seus convidados podiam ficar com
medo e acabar perdendo essas iguarias inventadas da necessidade....
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Em Brasília: à venda na Banca da Conceição, na superquadra 308 sul.
A esperança tem muitos nomes, no final da seca atende por chuva. Os
primeiros sinais de aproximação da água parecem fazer a terra seca e vermelha
soltar um cheiro forte de poeira, no contato com os pingos microscópicos que
caem, esparsos. Resultado de um desejo profundo por alívio do calor e da
intensidade da falta de água características do Cerrado. Depois, vem aquele
aroma de chão gradualmente molhado, que é a cara do início da primavera. Os
passarinhos ficam enlouquecidos, cantando alto e visivelmente assanhados, sem
parar, o dia inteiro, chamando pela estação do renascimento, depois da espera
do inverno, seja ele frio ou muito quente, no final, como acontece no planalto
central...
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Em Brasília: à venda na Banca da Conceição, na superquadra 308 sul.
Comecei minha relação com o pandeiro há mais de quatro anos. Queria
uma atividade lúdica, de descompressão do dia de trabalho e um pouco de
diversão junto com outras amigas que também tinham vontade de se aventurar
pelos caminhos da percussão. O primeiro contato com o instrumento foi
desastroso. Achei pesado, doeu meu pulso esquerdo, não tinha a menor condição
de sustentar o pandeiro numa mão e ainda tocar com a outra. Resolvi começar pelo tantan, que apesar de
maior, parecia mais fácil, repousava sobre a perna, facilitando as coisas para
mim. Mas acabei encomendando um pandeiro pelo correio de um artesão do Rio, o
Zezinho.
Quando chegou o bendito e o peguei nas mãos, me surpreendi com a sua
leveza, em comparação ao que eu havia experimentado antes, e pensei: “acho que
dá para tentar!”. Mas não pensem que foi fácil como eu imaginei brincar de
batucada no meu telhado de grama. Tinha, primeiro, um conflito de estar tirando
o tempo livre com a minha família, que sempre é escasso para quem cumpre
jornada de 40 horas semanais de trabalho. Apesar de sempre dar jantar aos
meninos e fazer o dever de casa antes de começar, numa correria alucinada
geralmente, vez por outra batia aquela culpa famigerada que persegue as
mulheres nesse mundo. Depois, vinha o medo de não conseguir aprender,
acompanhado da constatação de que não sou um talento nato e nem tenho um ouvido
especialmente bom.
Tive a sorte de começar com o professor perfeito. Simples,
descontraído, desencanado, tranquilo ao ponto de às vezes parecer estar em outro
mundo, que sempre lembrava a frase de um peruano com quem teve aula, que virou
o bordão dos nossos anos de samba no telhado de grama: “A música brôta (assim
mesmo para imitar o sotaque original)!”. E não é que é verdade?!
Quando a gente perde o medo de errar e, principalmente, reduz o
esforço para acertar, as coisas parecem aflorar e a hora de entrar fica clara,
assim como a de brecar. Talvez tenha sido
isso o que me atraiu para a percussão, logo nos primeiros anos dessa
jornada recente de autoconhecimento, ouvindo o Marcos Suzano tocar com o Vitor
Ramil, no SESC, em São Paulo. Um momento de absoluto êxtase por ouvir a milonga
de “Estrela, Estrela”, que conhecia desde adolescente na voz da Gal Costa,
dançar com um ritmo que eu nunca havia
imaginado que poderia ter, sem perder a sua força e melancolia originais.
A percussão tem uma sutileza e uma complexidade enormes, disfarçadas
ou até quem sabe escondidas, em instrumentos simples, quase rudimentares na sua
aparência, quando comparados aos de corda e de sopro, por exemplo, ou a um
piano. Mas é o ritmo que vem dela que dá vida e sustenta a música, e quando a
gente pára para escutar só as suas batidas, e mais nada, nasce o famoso suingue
que faz eco com a pulsação do nosso próprio coração. Esse gingado que faz a
vida ter graça nas suas pequenas coisas e que nos ajuda a lidar com os
sentimentos mais diversos e que incluem tristeza, dor, impotência, solidão,
todos juntos e misturados, dançando continuamente ritmados.
Entre tantas coisas que descobri e aprendi com a música e, em
especial, com a percussão, a mais importante delas talvez seja perceber que o
menor esforço produz o melhor som. Assim é também com a nossa voz, quando
projetada no canto ou num mantra. Quanto menos força colocamos para puxar o ar
ou tocar o pandeiro, quanto mais minimalista o movimento e a respiração, maior
o volume, o alcance e a clareza do som
produzido.
Hoje, ao final da aula de yoga, ouvi uma definição belíssima dessa
prática milenar. Diz que é um caminho para atingir o inatingível e para colocar
atenção TOTAL no presente. Nesses dias, em que meu coração tem apertado com uma
saudade funda, que faz parte do cotidiano do meu luto, tão cheio de serenidade
e de dor, isso faz um sentido
inacreditável.
É como no choro, a saudade e a dor fluem e se esparramam pelas cordas
e sopros do conjunto, mas o ritmo da percussão garante que a música vai chegar
ao final. Aquela batida constante leva todos os instrumentos juntos, mesmo no
silêncio do breque, que realça o solo do violão, e os une para transformar
aquele conjunto de notas em música.
E quando se está presente o suficiente, numa roda de choro ou em
qualquer outro lugar, para escutar somente, e se esforçar o mínimo para
participar, o inatingível desaparece
porque vira AGORA, e podemos
simplesmente ser parte dele e mais NADA. E nisso, é possível repousar e se
libertar dos fantasmas do medo, da solidão e da angústia, e compreender com o
coração que nenhuma dor pode parar a música ou a vida, porque ela tem um ritmo
próprio, que segue e brota, das formas mais inesperadas possíveis. E continua a
batucada....
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Em Brasília: à venda na Banca da Conceição, na superquadra 308 sul.
Há anos que parecem milênios. Desde a morte do meu marido, tenho uma
sensação recorrente de estar num filme de ficção científica, um gênero o qual,
aliás, sempre detestei. Mas um grande
amigo me fez repensar a questão, recentemente. Disse a ele que o meu maior
objeto de desejo na atualidade seria aquele espelho do Harry Potter, diante do qual ele se vê junto dos pais falecidos,
como se estivessem todos vivos. Mas ficava me lembrado do mestre Dumbledore dizendo ao jovem mago que não
havia nada mais perigoso no mundo do que aquele espelho. Pessoas haviam
enlouquecido e definhado, sem querer sair da frente dele, por não conseguirem
abrir mão da ilusão produzida por aquele objeto. “Credo, parece ficção
científica!”, concluí. E ele: “mas a ficção científica é só um jeito de tentar
lidar com as questões definitivas da vida – morte, envelhecimento, doença... E
por aí vai”. Taí, bom argumento!
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Em Brasília: à venda na Banca da Conceição, na superquadra 308 sul.
Maracanã lotado em
dia de jogo do Brasil! Sombras das
chuteiras imortais... Nelson Rodrigues, penso, olhando em volta. Estou na
fila para comprar água, no nível 1 do Maracanã, dia 17 de agosto, semifinal
olímpica, Brasil e Honduras. Começa a confusão. Uma mulher, aos berros, manda
um homem sair, ele carrega um bebê de colo no sling e, nervoso, parte para cima de outra mulher, na fila, todos
vaiam forte o covarde, que se afasta. Segue uma discussão que toma conta de
todos os que esperam, pelo menos há trinta minutos, para comprar ficha para as
bebidas.
O episódio que
originou tudo foi simples e clássico. A mulher estava cansada e estressada,
depois do metrô lotado feito sardinha para chegar ao estádio, por onde aliás
todos os que estavam na mesma fila vieram, e não queria ficar em pé como os
demais. Sentiu que tinha direito a um atendimento preferencial e chamou o
marido com a criança no colo para justificar a preferência. Mas não colou e
quem estava prestes a chegar ao caixa reagiu. Ela se descontrolou, gritou com o
marido para tirar a criança do local. Ele, por sua vez, ficou nervoso e partiu
covardemente para cima da mulher que não reconheceu a preferência do casal.
Chamaram a polícia, a mãe do bebê chorou e fez um longo discurso... Os
policiais botaram pano quente.
Logo, outro sujeito
que estava ali com um “filho especial” desabafou: “Eu tenho um filho assim e
nunca entro em fila preferencial! Tem gente que é demais! Quer privilégio para
tudo!” Outra pessoa atrás de mim arriscou: “Esse homem aí tá acostumado com
barraco. Por isso partiu para cima da outra, na fila. Tá na cara que a mulher é
uma descontrolada e a confusão rola solta em casa. Coitada da
criança!”....GOOOOOOOOL, do Brasil! Correria nos corredores, as caixas gritam e
esquecem da fila, ninguém se lembra mais da confusão.
Uma senhora chega
para reclamar, um homem alto com a camisa do Brasil que está em último na fila
põe a mão no ombro dela, olha em seus olhos. “O que a senhora quer?”,
pergunta. “Ser atendida!”, responde,
impaciente, porque parece óbvio. Ele sorri de lado e continua: “Não, minha
senhora! Eu perguntei o que a senhora REALMENTE quer!”, numa voz de pastor. Em
pleno Maracanã lotado, uma questão existencial profunda parece estar colocada.
Ela fica muda, se acalma, desiste do que veio procurar, seja lá o que for
certamente não vai conseguir naquela fila.
Filmo e gravo os
personagens, o lugar. Só consigo pensar no texto que vou escrever sobre esse
momento. Por que será que vejo o mundo assim, como uma crônica de Nelson
Rodrigues? As Olimpíadas do Rio me pegaram num momento muito particular.
Navegando no luto do meu amor, desempregada, quarentona, minha filha mais velha
começando a faculdade e eu no meio daquela multidão, querendo achar o que
realmente quero fazer da vida daqui para frente. E, a todo momento, percebo que
é escrever, fotografar, nem que seja só com o olhar, e pensar no sentido do que
me cerca, dos fatos, das pessoas que passam fora e dos sentimentos que provocam
dentro. Uma cronista da vida. Sempre fui assim... Mas ainda não consigo saber
exatamente o que fazer com isso. E a disponibilidade dos últimos tempos,
provocada por uma necessidade imperiosa de me reinventar completamente, só
aguçou essa percepção.
Será que toda
vocação tem que virar profissão? A gente bem que tenta fazer as duas coisas
caminharem juntas ou pelo menos próximas. Mas há talentos que não se prestam a
virar meio de vida, afinal o famigerado mercado escolhe as vocações que serão
recompensadas financeiramente. Muitas vezes opera destruindo as palavras e
sentidos que não servem para vender nada e podem até levar à redução do consumo...Imagina?!
Quando escolhi
minha profissão, pensava que o jornalismo me permitiria viver de escrever, como
confessei no primeiro texto deste blog. Mas o mercado de trabalho tão bruto e a
rotina de produção pesada me mostraram que seria bem mais complexo equacionar
essa dança entre vocação e profissão na minha vida. Faz dezenove anos que me
formei – e quase dois meses que não tenho emprego fixo, pela primeira vez em
todo esse tempo. E colocar isso no “papel” me dá uma sensação de prazer
indescritível de LIBERDADE e, ao mesmo tempo, uma angústia absurda de não ter
resposta!! Só milhares de perguntas...Minha filha mais velha me surpreende.
Assim são os filhos, sempre! Abriu mão da vaga conquistada com muito esforço em
uma universidade pública porque descobriu, trabalhando como voluntária nos
Jogos Olímpicos do Rio, o que quer de verdade. Admiro sua coragem e
determinação. Vai voltar para o cursinho e fazer o ENEM, no final do ano.
“Segue o seu coração!”, é tudo o que eu posso dizer para ela, e talvez muito mais
para mim, porque além disso, realmente não há mais.
Houve um tempo em
que acreditava que havia caminhos mais amenos e retos do que outros e muitas
vezes me torturei por nunca ter escolhido essas “vias expressas”, idealizadas
pela ilusão de que há existência sem dúvidas. Hoje, mais madura e consciente de
mim mesma e dos significados mais profundos da minha trajetória, só posso
repetir as palavras de Antonio Machado, na belíssima poesia Cantares: “Caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar”.
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Em Brasília: à venda na Banca da Conceição, na superquadra 308 sul.
Caros leitores, gostaria
de perguntar qual seria a conquista mais importante numa competição esportiva
mundial. Alguns responderão a medalha. Mas eu me reservo o direito de discordar
completamente dessa visão. A maior conquista é estar lá de corpo, mente e
espírito e aproveitar a reunião das pessoas num momento de festa e celebração,
principalmente das nossas DIFERENÇAS, como disse tão bem a Regina Casé na
abertura dos Jogos Olímpicos do Rio 2016.
Minha jornada
olímpica começou na véspera da abertura, no jogo de futebol entre Brasil e
África do Sul, no Mané Garrincha, em Brasília. Entrei no estádio completamente
lotado, como se fosse a primeira vez. E era. Nunca fui naquela arena sem meu
marido segurando minha mão. Temi não conseguir chegar sob o sol forte e depois
tive medo de não controlar as lágrimas e estragar o programa do nosso magriça.
Na fila, muitas lembranças. A última delas do show do Paul McCartney, em
novembro de 2014. Chuva torrencial. Nós dois sentados nas escadas, lá no teto
do estádio, atraso de quase uma hora. Meu coração apertado, como sempre
costumava ficar em meio às multidões. Vontade de desistir e correr para
casa...
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